quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Rituais africanos

Representando um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade de adquirir forças mágicas, as máscaras têm um significado místico e importante na arte africana sendo usadas nos rituais e funerais. As máscaras são confeccionadas em barro, marfim, metais, mas o material mais utilizado é a madeira. Para estabelecer a purificação e a ligação com a entidade sagrada, são modeladas em segredo na selva.
Na dança africana, cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente. Os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia. Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na música de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses.
A repetição do padrão-musical manifesta a energia que os fieis estão invocando. A repetição dos movimentos produz o efeito de transe que leva ao encontro com a divindade, muito usado em rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua. Nas danças africanas o contato contínuo dos pés nus com a terra é fundamental para absorver as energias que deste lugar se propagam e para enfatizar a vida que tem que ser vivida agora e neste lugar, ao contrario das danças ocidentais performadas sobre as pontas a testemunhar a vontade de deixar este mundo para alcançar um outro. Existem várias danças. Entre elas destacam-se: lundu, batuque, congadas e jongo.
  
Lundu:
Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo (sensual), evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual.
O lundu na suas origens tinha sistemática simples:
- Músicos iniciam o ritmo Lundu. As pessoas que querem dançar aproximam-se, já entrando na dança. Um sinal da viola é emitido e a primeira dançadora abre espaço no centro da roda que logo se forma com o grupo.
- Forma-se a roda e ela fica no centro dançando até convidar alguém para substituí-la.
- O convite pode ser uma batida de pé diante da pessoa, palmas diante da pessoa, uma umbigada ou um toque de ombros à esquerda e em seguida outro à direita.
- A dançadora convidada vai para o centro dançar.
- Dança no centro até escolher quem vai substituí-la. Pode ser uma mulher ou um homem. E as substituições continuam por várias vezes.
- Quando esta no meio da roda, o dançador faz evoluções inteiramente relaxado, braços caídos ao longo do corpo, pernas meio fletidas, mantendo um sapateio em que a planta do pé bate inteiramente no chão, ao ritmo da música.
- A predominância dos dançadores é de mulheres. Homens em geral ficam apenas olhando ao redor, mas ao serem convidados vão para o centro dançar. Se ao sair convidam uma dançadora com umbigada, faz-se grande algazarra no grupo. Não se registra umbigada de homem em homem, mas entre mulheres há umbigada indistintamente em outra mulher ou em homem. Pode-se concluir que há aí uma representação do ato sexual no movimento.
“Havia mulatos célebres, aplaudidos nos salões por darem ao lundum um acento libidinoso como ninguém: era uma feiticeira melodia sibarita, em lânguidos compassos entrecortados, como quando falta o fôlego, numa embriaguez de sensualidade voluptuosa.” (Oliveira Martins, História de Portugal, vol. II, Lisboa, 1920).


Batuque:
O batuque é uma religião onde se cultuam vários Orixás, oriundos de várias partes da África, e suas forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus assentamentos e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras, cachoeiras etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.
Todo ser humano nasce sob a influencia de um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e a proteção deste Orixá que está naturalmente vinculado e rege seu destino, com características individuais, em que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser um simples colaborador nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá (o chefe do terreiro) ou Iyalorixá (a chefe do terreiro).
Principais orixás:
Exu, orixá guardião dos templos, encruzilhadas, passagens, casas, cidades e pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
Ogum, orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia.
Oxóssi, orixá da caça e da fartura.
Xangô, orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
Oxumaré, orixá da chuva e do arco-íris, o Dono das Cobras.
Ossaim, orixá das Folhas sagradas, conhece o segredo de todas elas.
Oyá ou Iansã, orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades, e do rio Níger.
Oxum, orixá feminino dos rios, do ouro, jogo de búzios, e protetora dos recém nascidos.
Iemanjá, orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de muitos orixás.
Nanã, orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê.
Yewá, orixá feminino do Rio Yewa, considerada a deusa da beleza, da adivinhação e da fertilidade.
Obá, orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô, é a deusa do amor.
Ibeji, divindade protetor dos gêmeos.
Omulu, Orixá da morte.
Oxalá, orixá do Branco, da Paz, da Fé.
Logun-Edé, é o Orixá da riqueza e da fartura, filho de Oxum e de Oxóssi.


Jogo de Búzios:
O jogo de búzios é uma das artes divinatórias utilizado nas religiões tradicionais africanas e na religiões da Diáspora africana instaladas em muitos países das Américas.
Existem muitos métodos de jogo, o mais comum consiste no arremesso de um conjunto de 16 búzios sobre uma mesa previamente preparada, e na análise da configuração que os búzios adoptam ao cair sobre ela. O adivinho, antes reza e saúda todos os Orixás e durante os arremessos, conversa com as divindades e faz-lhes perguntas. Considera-se que as divindades afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.
A quantidade de búzios pode váriar de acordo com a nação, o mais comum é composto de 16 ou 17 búzios, mas o jogo com 21 búzios também é muito comum.
Além dos búzios pode-se utilizar outros objetos para consulta dos Orixás: Obí, Orobô, Alobaça (cebola), atarê (pimenta da costa), ossos, víceras, e outros.


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